“Brazilian Storm“. É impossível gostar de surfe e nunca ter ouvido esse termo. O Brazilian se refere à geração brasileira do esporte que a cada dia toma mais e mais lugar no cenário mundial com o talento em cima da prancha.
Porém o talento não se vê apenas lá fora: o Brasil tem se tornado uma indústria de surfistas da mais alta qualidade, e a Confederação Brasileira de Surf (CBSurf) é o principal órgão auxiliador na tarefa de encontrar e produzir mais e mais novos talentos.
De acordo com o estatuto da organização, a entidade é “a única responsável pela organização da prática e gestão da modalidade surfe no território brasileiro, bem como pela representação do surfe brasileiro perante todas e quaisquer pessoas”. Com um poder de representação tão grande, é necessário que haja igualdade e justiça social, como uma instituição sem fins lucrativos.
E com cada vez mais ascensão de surfistas femininas, uma representação igualitária dentro e fora d’água também é necessária. A equivalência na premiação já é uma realidade nas competições da organização, como de exemplo o Dream Tour, mas além disso, a direção também conta com uma mulher a frente.
Brigitte Mayer, a primeira surfista profissional brasileira, é também a vice presidente do surf feminino da CBSurf, focado no desenvolvimento de surfistas mulheres no esporte, e o seu mandato se estende até dezembro de 2024, quando se encerra também o mandato de Teco Padaratz, presidente da Confederação.
E com o Dream Tour em andamento, com surfistas como Tainá Hinckel, Silvana Lima, Yanca Costa, Julia Duarte e Sol Carrion se destacando, a equipe do Blog Cutback não pôde deixar de bater um papo com Brigitte e conversar sobre a visão da CBSurf e o surfe brasileiro feminino.
BC: Brigitte, qual é o principal efeito que você visa ter enquanto estiver no cargo de vice-presidente da CBSurf?
BM: Despertar o senso de pertencimento das mulheres dentro da confederação. Que essa gestão possa ir além do cenário das competições, do desenvolvimento e do alto rendimento de todas as modalidades do surf feminino (Pranchinha, Longboard, SUP, ParaSurf e Big Surf).
E ao despertar esse senso de pertencimento que mais mulheres possam atuar nas diversas áreas de atuação dentro da Confederação como juízas na equipe técnica, coordenadoras de prova nos campeonatos, técnicas exclusivas para equipe feminina, locutoras, comentaristas e nas áreas de gestão.
BC: A igualdade no valor dos prêmios monetários para a categoria feminina e masculina nos eventos da CBSurf é uma novidade não comum no esporte em questão. Como foi o processo para conseguir a aprovação dessa ação?
BM: Ainda no período anterior a eleição da CBSurf, a igualdade das premiações já era unanimidade entre nós. Um dos nossos projetos – e foi totalmente abraçada, chancelada por todos que fazem parte dessa gestão no resgate do surf brasileiro.
O conceito já estava estruturado, a equidade é o caminho natural, nada difere o esforço que os atletas de ambos os gêneros fazem para alcançar os objetivos traçados em suas carreiras esportivas. E nessa trajetória todos os patrocinadores e parceiros do Dream Tour e dos eventos da CBSurf nas suas diversas modalidades estão juntos no projeto da valorização e desenvolvimento das mulheres no surfe.
BC: Quantos cargos na CBSurf são ocupados por mulheres? Há uma cota mínima de representação feminina exigida pela diretoria no corpo administrativo da confederação?
BM: A CBSurf é a única confederação esportiva do Brasil que tem estatutariamente uma vice-presidente em sua composição por obrigação, sem dúvidas um marco a ser celebrado. Na maioria dos Conselhos temos a presença de mulheres assim como em todas as diretorias.
Estamos trabalhando para que esse número aumente gradativamente e que as mulheres que já compõe cargos na CBSurf possam inspirar outras, é importante ter referências femininas.
BC: O que você viveu ou presenciou na sua carreira, desde antes do intercâmbio de surfe até hoje, que você faz questão de buscar passar para surfistas femininas que aspiram ser campeãs mundiais?
BM: Que elas acreditem e sigam seus sonhos, pois esse local de pertencimento existe e deve ser ocupado. O caminho não é fácil, mas acreditem no passado era centena de vezes mais difícil, que tenham coragem e que acreditem no seu potencial.
Trabalhem com foco e que sigam sua trajetória no esporte com metas, objetivos e muita paixão. E que NUNCA deixem que alguém as convença que o surf como esporte e profissão não é o lugar delas. – Brigitte Mayer, em entrevista ao Blog Cutback.
BC: Na atualidade, ao seu ver, qual é a principal barreira entre a prática do surf por mulheres e a profissionalização no esporte?
BM: A presença feminina no line up é uma realidade há algum tempo. É um estilo de vida que conquista todas e sendo assim um caminho natural para todas aquelas que enxergam a vida através de um olhar voltado a natureza, da harmonia e no prazer que o surfe proporciona.
Mas esse ambiente pode também ser hostil para aquelas que se iniciam no surf competitivo e o senso de não pertencimento se sobressai quando influências negativas como o preconceito, machismo e a desigualdade se fazem de alguma forma presente.
O surfe como profissão é movido por muitas vertentes e a engrenagem precisa ser auto energizada. Ao solidificarmos o circuito brasileiro com boas premiações e com a equidade instaurada, o ambiente mais equalitário irá trazer mais oportunidades e novos talentos irão surgir naturalmente.
BC: Como a CBSurf pode auxiliar e incentivar a prática do surf feminino?
BM: Quando falamos da presença de mais meninas e mulheres no mundo competitivo e do crescimento desportivo como um todo, o projeto é mapear esses talentos pelo Brasil e nesse ponto acredito que as escolinhas de surf, associações locais e as federações têm um papel primordial para esse mapeamento.
Normalmente os novos talentos são descobertos por estas entidades, o papel delas é importantíssimo para o desenvolvimento das atletas. E juntos, através desse mapeamento, o projeto é proporcionar um cenário onde mais meninas possam ter a oportunidade de crescer dentro do esporte. Treinamentos de campo e intercâmbios serão uma forma de darmos o suporte e viabilizar oportunidades relevantes ao desenvolvimento dessas meninas.
Ainda nesse escopo, garantir e valorizar a igualdade de direitos das mulheres estimulando-as a terem voz e a ocupar espaços em todas as áreas de atuação dentro da Confederação.
Se você quiser ficar sabendo mais sobre os eventos da CBSurf, não deixe de checar o calendário de eventos!
Foto em destaque: Rick Werneck.